Nelson e Maria tinham acabado de se mudar para Fernandópolis que ficava no interior de São Paulo. O lugar era muito sossegado e bonito.
Maria havia comprado aquela casa com o dinheiro da aposentadoria de Nelson, que sempre foi muito trabalhador, mas ele tinha um grande problema, era alcoólatra. Talvez fosse por isso que Maria optou por comprar uma casa no interior, pois assim Nelson, agora aposentado, teria muitas tarefas para fazer, como carpir, cuidar da criação, etc...; O fato era que ele já estava muito debilitado da cachaça, e se continuasse em São Paulo sem trabalhar, ia acabar falecendo em virtude do álcool.
Durante a tarde, depois que ele cuidava de seus passarinhos, ia sempre ao boteco que ficava no bairro, para tomar umas e outras. E quando caia a noite, Nelson voltava para casa travado de bêbado. Foi numa dessas tardes que o inesperado aconteceu.
Maria acabara de lavar a louça do almoço, quando Nelson disse que ia no bar tomar só uma dose de pinga, (isso era pura mentira pois toda vez que ele saia para beber, eram doses e mais doses), foi até o barracão, pegou sua bicicleta "Barra Forte" vermelha e foi rumo ao bar. Chegando no bar, Nelson pediu sua primeira dose, foi quando entrou um velho e sentou-se do lado dele, esse tal senhor pediu uma dose também e começou a conversar com Nelson, bebida vai bebida vem, já eram quase seis horas da tarde Nelson disse para o velho que ia embora, mas o mesmo convidou-o para ir na sua casa, que ficava a poucas distâncias do bar que estavam. No princípio, Nelson disse que não, mas ai o velho fez uma proposta irrecusável para um alcoólatra. Disse que em sua casa havia algumas garrafas de Rum e Conhaque, Nelson ficou encantado com aquelas palavras e logo topou a proposta, afinal era horário de verão.
Nelson e seu recente amigo caminharam durante algumas horas, isso por que o velho disse que sua casa ficava a poucos metros do bar. Chegando finalmente à casa, Nelson se deu conta de que havia esquecido sua bicicleta lá no bar, mas ao ver as garrafas de bebida ele não ligou mais para a bicicleta que tanto gostava. Ficaram bebendo e conversando e aos poucos ficando mais bêbados ainda, quando se deram conta já eram onze e meia da noite, Nelson se despediu de seu amigo-de-copo e foi embora.
O caminho parecia estar totalmente diferente, pois além da embriagues ele não conhecia o lugar, afinal morava naquela cidade havia apenas três semanas. A escuridão o açoitava, o vento gelado parecia corta-lhe a pela e a bebida parecia subir à cabeça mais e mais. Foi quando, ao pegar uma ladeira, deu de frente a uma pista rodoviária. Agora Nelson estava mais desesperado do que nunca, pois eles não haviam passado em nenhuma pista rodoviária.
As enormes carretas passavam e só com o vento de sua velocidade derrubavam o pobre do Nelson. O seu desespero era tanto que começou a chorar, foi quando o macabro aconteceu. Já quase desistindo de que ia chegar em casa naquela noite, Nelson saiu da rodovia e entrou em uma clareira, ajeitou-se em uma moita e tentou dormir, mas ao firmar a vista em direção ao matagal, viu a figura de um enorme homem vestido de preto, com chapéu que parecia uma cartola muito elegante, vestia um casaco de couro negro e calçava uma bota que reluzia até naquela escuridão. Ao lado desse homem havia um menino que segurava sua mão direita. O menininho vestia uma capinha de chuva amarela e galocha.
No primeiro momento, Nelson pensou que aquilo era o efeito da pinga, mas foi mesmo assim em direção daquele misterioso ser. Ao chegar frente à frente com o homem, o bêbado perdido teve um enorme susto, o menino ao lado do homem não tinha rosto. Nelson ficou tão horrorizado que a bebisse passou na hora. O homem tranqüilizou-o dizendo para não ter medo, pois o menino é inofensivo.
Nelson se surpreende quando o enorme homem pegou na sua mão e disse que o levaria para casa, pois sabia aonde morava. O bêbado(que após o susto já não estava mais) fixou o olhar no rosto do homem e ficou pasmado, pois a criatura tinha olhos de fogo. Mas mesmo assim Nelson não fugiu pois a força que o homem segurava sua mão era tanta, que não havia nem como escapar.
Caminharam lado á lado por uma trilha, Nelson puxava conversa, mas ele não respondia. O homem segurava o garotinho com a mão direita, e com a esquerda segurava o assustado Nelson.
Para sua surpresa chegaram na casa em 15 minutos e para seu horror, quando se virou, as duas criaturas já não estavam mais lá.
Nelson entrou em casa todo sujo de lama, Maria estava dormindo no sofá, ao seu lado havia um cinzeiro com várias betumas de cigarro. Logo Nelson notou a preocupação de Maria.
Já se passaram 17 anos, e até hoje Nelson senta na sua varando com seu cigarro de palha e fica pensando o que era aquilo que o ajudou naquele momento de desespero. Será que era algum demônio que protege os bêbados ou será que era apenas fruto da sua imaginação.
Hoje Nelson não toma mais nada de álcool, e é uma pessoa muito pensativa, pois só ele e eu sabemos o que aconteceu naquela noite.