Pela passagem do
Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, comemorado na terça-feira, o
Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) divulgou a lista dos 10 piores países do mundo para se ter um blog. Liderada pelo Mianmar, a listagem traz nações principalmente da Ásia, do Oriente Médio e do norte da África - do continente americano, o único representante é Cuba -, geralmente comandadas por poderes ditatoriais.
Feito com base em consultas a peritos em internet, que indicaram vários países com registros de casos de controle envolvendo a difusão de conteúdos online, o relatório elencou oito perguntas para avaliar as condições dos blogueiros naquelas nações. Dentre os questionamentos feitos para elaborar a lista, foram avaliadas questões que vão desde se há blogueiros presos no país analisado, se existe perseguição após a publicação de críticas, qual a freqüência de ataques cibernéticos ou se o governo controla ou limita o acesso à web, até se os autores deixam de publicar textos polêmicos para evitar represálias e se o país tem legislação que censura os conteúdos.
A classificação final foi feita com uma votação da qual participaram representantes do CPJ, além de peritos externos. Confira abaixo a lista completa dos piores países e veja porque eles figuram como as nações menos indicadas para se manter um blog.
1 - Mianmar
No país, os meios de comunicação são censurados e obedecem a rígidas determinações de controle. O acesso à internet é muito restrito - apenas 1% da população navega na web - e o governo já chegou a cortar o sinal do serviço em 2007, em resposta a protestos populares, além de monitorar correios eletrônicos e impedir usuários oponentes do governo de navegarem no ciberespaço. O mais notório internaura afetado pela retaliação no país é o blogueiro
Maung Thura, conhecido como
Zarganar, que cumpre sentença de 59 anos de prisão por ter divulgado imagens do ciclone Nargis, em 2008.
2 - Irã
Deliberadamente, as autoridades perseguem blogueiros que publicam críticas a líderes religiosos ou políticos no país. Como forma de controle, o governo existe que os internautas registrem seus sites no
Ministério de Arte e Cultura. Muitos, porém, já foram bloqueados por funcionários públicos, ordenador por superiores para tirar do ar os blogs. Até uma promotoria especializada em temas de internet foi criada para trabalhar diretamente com os serviços de inteligência para rastreamento de conteúdo. Um dos símbolos da perseguição no país é o blogueiro
Omidreza Mirsayafi, que morreu na prisão em março, misteriosamente, após ter criticado líderes religiosos.
3 - Síria
Conhecida por utilizar filtros que bloqueiam sites, a Síria também pratica a interrupção de conteúdos que se oponham às idéias do governo e das autoridades. Por causa das perseguições, a autocensura dos blogueiros é prática comum. Desde 2008, o
Ministério das Comunicações determina aos proprietários de cybercafés que solicitem a identificação dos clientes, com registro de nomes e tempo de navegação, cujos dados são repassados aos órgãos controladores.
Waed al-Mhana, defensor de sítios arqueológicos em risco, é um dos internautas que sofreu perseguição por ter publicado um texto que criticava a demolição de um mercado na Antiga Damasco.
4 - Cuba
Único representante das Américas, Cuba figura na lista dos piores países para os blogueiros por manter 21 jornalistas presos, que foram detidos em 2003 por enviar textos para sites do exterior por telefone ou fax. Na ilha, somente funcionários do governo e pessoas ligadas ao
Partido Comunista têm acesso à internet. A população só consegue se conectar à web em hotéis ou cybercafés controlados pelo governo. Além de o serviço de internet ser caro e monitorado - geralmente com intervenções de bloqueios a páginas cujos conteúdos sejam considerados ofensivos ou contrários à política cubana -, os blogs que pertencem a domínios radicados fora do país também são bloqueados na ilha.
5 - Arábia Saudita
Com cerca de 400 mil sites bloqueados, incluindo os que abordam temas políticos, sociais ou religiosos - a Arábia Saudita também sofre autocensura dos blogueiros, temerosos de serem perseguidos. Na Arábia, "qualquer coisa contrária ao Estado ou ao seu sistema" é bloqueada, cita o relatório da CPJ. No país, também são aplicadas penas como açoitamento ou morte para escritores que publiquem material considerado "herético". Um dos ícones da luta contra a censura na internet no país é o blogueiro
Fouad Ahmed al-Farhan, que foi encarcerado sem acusações, em 2007 e 2008, por ter promovido a libertação de prisioneiros políticos.
6 - Vietnã
Desde outubro de 2008, o
Ministério da Informação e Comunicação detém uma agência para monitoramento da internet. Embora os blogueiros tenham tentado driblar a brecha deixada pelos meios de comunicação controlados pelo Estado se esforçando para criar uma imprensa independente, o governou aumentou a rigidez no controle da internet e das leis nacionais para controle de conteúdo. As autoridades, inclusive, pressionaram multinacionais da área de tecnologia, como
Yahoo, Google e Microsoft, para que entregassem informações sobre os blogueiros hospedados em suas plataformas.
7 - Tunísia
Advertidos em março deste ano pelo
presidente Zine El Abidine Bem Ali sobre os perigos de praticarem atividade "indecorosa" e citarem "erros do governo" em seus textos, os blogueiros tunisianos sofrem vigilância, intimidações e sabotagens eletrônicas. Até prisões, como ocorreu com os escritores online
Slim Boukhdhir e Mohamed Abbou, são recorrentes no país, que regula os endereços de IP e informações que permitam identificar os blogueiros. Uma central de dados também é mantida pelo governo para filtrar as mensagens e monitorar os e-mails da população.
8 - China
País com maior número de internautas - são cerca de 300 milhões de pessoas conectadas à web - embora tenha uma atividade digital intensa, a China vive sob um forte domínio governamental na difusão da informação. As autoridades mantêm provedores de serviços que filtram buscas, bloqueiam sites, apagam conteúdos e monitoram os correios eletrônicos, a exemplo do Escritório Nacional contra a
Pornografia e as Publicações Ilegais, que bloqueou 200 milhões de sites considerados "danosos" somente em 2008. Como a imprensa dominada, os chineses souberam primeiramente do terremoto de
Sichuan, em 2008, através dos blogueiros. Mas as tentativas de driblar o controle são severamente punidas, a exemplo de 24 repórteres que permanecem encarcerados.
9 - Turcomenistão
Sob o monopólio do provedor estatal de serviços de internet, o
Turkmentelecom, os acessos à internet são facilmente bloqueados no país. Contas de
e-mail no Gmail, Yahoo e Hotmail também são monitoradas, aumentando o controle sobre os internautas. Embora o presidente
Gurbanguly Berdymukhammedov tenha declarado apoio à abertura do acesso público à internet, quando o primeiro cybercafé do país foi aberto, em 2007, soldados cercaram o lugar e os preços de navegação foram inflacionados. As autoridades também passaram a monitorar os sites e a bloquear serviços. Uma empresa de telefonia russa passou a operar no país, mas os contratos da prestadora com os clientes exigem que sejam citadas cláusulas advertindo para que o acesso a sites de conteúdo opositor ao governo sejam evitados.
10 - Egito
O mais famoso caso de punição a um blogueiro no país é o de
Abdel Karim Suleiman, conhecido virtualmente como
Karim Amer. Ele cumpre pena de quatro anos de prisão por ter insultado o Islã e o presidente Hosni Mubarak. No Egito, as autoridades bloqueiam e monitoram atividades online regularmente e a circulação de informações dos provedores de serviços online passam pela
Telecom Egito, controlada pelo Estado. De acordo com a documentação de grupos locais de liberdade de imprensa, mais de 100 blogueiros foram detidos somente em 2008 no país, muitos sem ordens judiciais e submetidos a maus-tratos e tortura, em alguns casos.
Créditos
www.terra.com.br/tecnologia