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Antigo 03-04-2009, 02:20 AM
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Nosyel é explendido para se observarNosyel é explendido para se observarNosyel é explendido para se observarNosyel é explendido para se observarNosyel é explendido para se observarNosyel é explendido para se observar
Padrão A Última Viagem


Chamo-me Antônio Jurandir, tenho 32 anos, moro em Cruzeiro do Sul-AC. Quase todas as pessoas que conhecemos já ouviram falar de bruxas, bruxaria ou feiticeiras. Entretanto pode-se dizer que nem a 30% delas acreditam nestas coisas. Bem eu também não. Até que um fato, ocorrido comigo há dois anos, me colocaria à prova e mudaria minha crenças.
Naquele ano eu estudava e trabalhava. Então não me restavam opções a não ser trabalhar de dia e estudar a noite. Com isso levei um ano sempre pegando praticamente o mesmo ônibus e consequentemente o mesmo motorista (Carlão) todas as noites. Já éramos até amigos. Muitas vezes só íamos eu, ele e o cobrador. Então teve um dia que Carlão não me cumprimentou. Achei que deveria ser um dia daqueles em que deve ter dado alguma coisa errada. Também não procurei puxar conversa.
No caminho pra casa ele parou num ponto e apanhou uma senhora bem magra vestida com uma roupa escura com um chalé roxo que aparentava ser muito velha. Ela entrou gratuitamente, por ser idosa. Então Carlão começou a reclamar: - Essas velhas ficam aí saindo de madrugada, podendo ser assaltadas, depois ficam aí reclamando. Também têm razão, é de graça. Só quero saber quem paga a passagem delas ? O cobrador olhou pra mim e fez um gesto com a cabeça censurando o colega por reclamar da pobre senhora que parecia ter idade pra ser tataravó de Carlão.
A velha senhora não se fez de rogada, começou a cantar baixinho, tirou da bolsa um vidro com algo que parecia ser um remédio, esfregou-o nas suas mãos e começou a falar umas palavras que mal dava pra entender. Digo isto, porque eu estava sentado bem próximo dela e a vi fazendo isto, que mais lembrava um ritual. De repente ela levantou do banco pediu pra parar e ao passar ao lado dele para descer do ônibus, botou a mão em seu ombro e desejou um ótimo final de noite.
Bem, passaram-se alguns dias até que depois de fazer umas cinco viagens sem ver meu amigo guiando o ônibus, perguntei ao novo motorista: - Onde estava Carlão? O rapaz então disse: - O Carlão pegou uma doença que o invalidou pra toda vida. Deu uma infecção nele que o deixou tetraplégico e o coitado inclusive nem fala mais. Você é amigo dele? Eu disse: - Sim, e lamento muito. Tentei ir ao hospital visitá-lo mas confesso que não fui por medo e pena. Preferi guardá-lo em meus pensamentos do jeito que ele sempre foi.
Pode ter sido coincidência, como pode também não ter sido também.
Já faz algum tempo que mudei de bairro e daquele dia pra cá, descobri que se a nossa fé no divino não for forte, é melhor tomarmos muito cuidado ao magoar-mos as pessoas, sendo elas, estranhos ou não.
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