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#13
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Chamo-me Antônio Jurandir, tenho 32 anos, moro em Cruzeiro do Sul-AC. Quase todas as pessoas que conhecemos já ouviram falar de bruxas, bruxaria ou feiticeiras. Entretanto pode-se dizer que nem a 30% delas acreditam nestas coisas. Bem eu também não. Até que um fato, ocorrido comigo há dois anos, me colocaria à prova e mudaria minha crenças.
Naquele ano eu estudava e trabalhava. Então não me restavam opções a não ser trabalhar de dia e estudar a noite. Com isso levei um ano sempre pegando praticamente o mesmo ônibus e consequentemente o mesmo motorista (Carlão) todas as noites. Já éramos até amigos. Muitas vezes só íamos eu, ele e o cobrador. Então teve um dia que Carlão não me cumprimentou. Achei que deveria ser um dia daqueles em que deve ter dado alguma coisa errada. Também não procurei puxar conversa. No caminho pra casa ele parou num ponto e apanhou uma senhora bem magra vestida com uma roupa escura com um chalé roxo que aparentava ser muito velha. Ela entrou gratuitamente, por ser idosa. Então Carlão começou a reclamar: - Essas velhas ficam aí saindo de madrugada, podendo ser assaltadas, depois ficam aí reclamando. Também têm razão, é de graça. Só quero saber quem paga a passagem delas ? O cobrador olhou pra mim e fez um gesto com a cabeça censurando o colega por reclamar da pobre senhora que parecia ter idade pra ser tataravó de Carlão. A velha senhora não se fez de rogada, começou a cantar baixinho, tirou da bolsa um vidro com algo que parecia ser um remédio, esfregou-o nas suas mãos e começou a falar umas palavras que mal dava pra entender. Digo isto, porque eu estava sentado bem próximo dela e a vi fazendo isto, que mais lembrava um ritual. De repente ela levantou do banco pediu pra parar e ao passar ao lado dele para descer do ônibus, botou a mão em seu ombro e desejou um ótimo final de noite. Bem, passaram-se alguns dias até que depois de fazer umas cinco viagens sem ver meu amigo guiando o ônibus, perguntei ao novo motorista: - Onde estava Carlão? O rapaz então disse: - O Carlão pegou uma doença que o invalidou pra toda vida. Deu uma infecção nele que o deixou tetraplégico e o coitado inclusive nem fala mais. Você é amigo dele? Eu disse: - Sim, e lamento muito. Tentei ir ao hospital visitá-lo mas confesso que não fui por medo e pena. Preferi guardá-lo em meus pensamentos do jeito que ele sempre foi. Pode ter sido coincidência, como pode também não ter sido também. Já faz algum tempo que mudei de bairro e daquele dia pra cá, descobri que se a nossa fé no divino não for forte, é melhor tomarmos muito cuidado ao magoar-mos as pessoas, sendo elas, estranhos ou não. |
#14
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A noite de 5ª para 6ª feira estava fria e tenebroza, não sei se por que a solidão da madrugada me fazia ter pensamentos assustadores e então em cada encruzilhada que passava eu fazia o sinal da cruz demostrando ja todo o medo que se apossava de mim criado por minha própria mente.
Ja bem perto do meu destino parecia haver alguem me olhando e esta sensação aumentava o meu medo, resolvi então cortar caminho por um local mais escuro com arvores dos dois lados da rua e ao me aproximar de uma das encruzilhadas da qual venho me referindo percebi, que uma pessoa vinha em minha direção so que, flutuando, e ao chegar mais perto pude ver a sua deformação fisionomica, foi ai que comecei a rezar com toda fé que podia, mas nem assim aquela criatura desapareceu me virei e corri, corri e rezava, foi quando cheguei em casa e no portão da minha casa a figura estava plantada me esperando de braços abertos, foi ai que resolvi pegar meu crucifixo e rezar com toda fé até conseguir que a criatura sumisse. (Este caso, se deu ha 26 anos atras). Este caso ocorreu com Moacyr Miguel Corrêa Filho, pai do WebMaster Miguel. |
#15
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A lenda da Bruxa de Blair: Em 1634, é fundada a pequena vila de Blair, nas colinas de Black Hills, nos Estados Unidos. Mais de cem anos após a fundação da vila, em 1785, Elly Kedward é acusada de bruxaria. No ano seguinte, seus acusadores e metade das crianças da cidade desaparecem. Os outros habitantes, temendo uma maldição, abandonam a vila e juram nunca mais tocar no nome de Kedward. Mas era tarde demais... Quase meio século se passou e o mal que havia em Black Hills permanecera adormecido. Nesse meio tempo, em 1824, é fundada Burkittsville, distrito de Maryland, no mesmo local da antiga Blair. No ano seguinte, porém, onze pessoas afirmaram ter visto a mão de uma velha empurrar o garoto Eileen Treacle, de apenas 10 anos, para dentro do riacho Tappy East. O corpo do garoto nunca mais foi encontrado. O mal volta a se manifestar. Em 1886, Robin Weaver, de apenas oito anos, é dada como desaparecida. Cinco homens entram na floresta de Black Hills em busca da pequena Robin. Seus corpos são encontrados mais tarde, em Coffin Rock, todos amarrados, estripados e em avançado estado de decomposição.
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#16
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Muitos dizem que é um ritual, aquele homem amarrado na sua própria casa. Mãos e pés unidos naquela corda que dilacera sua pele frágil. A dor e a humilhação é grande, pois ele estava nu. Ele grita e geme de dor, e só quem pode ouvi-lo são aqueles loucos, insanos e psicopatas, doidos por rock, além do seu velho companheiro.
Um cão, da raça papa-ovo, de cor preta e olhos avermelhados, observa seu dono ser torturado e morto. São cinco homens, cabeludos, tatuados e musculosos. Todos usavam roupas pretas e com uma estampa escrita bem assim: LOVE THE DEATH. Eles são os autores dessa cena bizarra; mataram aquele homem na sua própria sala. Lá estava aquele corpo ao redor de várias velas, um corpo nu marcado por facas extremamente afiadas. E o único que não entendia nada era o seu cão, um animal irracional. No dia anterior, a polícia achou o cadáver. Só não conseguiram desvendar quem foram os culpados daquela brutalidade. Ao lado do corpo encontraram um cão. A família do falecido ficou com o corpo e eles fizeram um enterro digno. Ninguém nunca teve notícia do cachorro. Os dias se passaram e algo de estranho começou a acontecer. Misteriosas mortes ocorriam na cidade. Já era o segundo assassinato seguido, tendo como vítimas dois homens fortes e cabeludos, com pinta de roqueiros. A polícia só sabia que o autor desses crimes era um animal com dentes muito afiados. Houve, mais tarde, a terceira e a quarta mortes, cujas vítimas tinham as mesmas características das outras. Porém, na quinta morte a polícia conseguiu dar um tiro no responsável por esses crimes. Era um cão de cor preta, raça papa-ovo e com os olhos avermelhados que ainda conseguiu fugir. E, ao mesmo tempo, era noticiado na televisão o fim de uma banda chamada LOVE THE DEATH, com todos os seus cinco membros assassinados por um animal que, descobriu-se depois, tratar-se de um cão, que ninguém sabe de onde veio. No cemitério, em cima do túmulo do jovem morto naquele ritual, a polícia encontrou um cão, ensangüentado e morto por um tiro. Até hoje, não se conseguiu desvendar esse mistério. |
#17
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1971 – Guerra de Angola.
O primeiro-tenente fuzileiro, Rocha comandava a companhia nº 23 do corpo de fuzileiros especiais, e esta era a sua segunda comissão na guerra do Ultramar. A companhia procurava por uma pequena província a nordeste de Nambuangongo, onde se conservava um foco de resistência de contra-guerrilha. A informação que Rocha transmitiu aos homens foi bem clara: “eliminar esse grupo armado, cuja missão era produzir (e distribuir) propaganda politica pró-independência, que servia para incitar as populações a agirem contra os portugueses”. O que ele não lhes revelou (por ser altamente confidencial) foi que naquela mesma província, se estavam a realizar experiências biológicas, altamente perigosas, onde cruzavam animais com seres humanos. A sua missão individual era descobrir o laboratório onde se realizavam tais experiências e reunir toda a informação sobre esse caso em concreto. A estrada por onde seguiam era pedregosa, acidentada e de difícil acesso. Mais à frente, o caminho estava obstruído por uma enorme fenda, que tornou impossível a progressão motorizada por aquele atalho. Isto obrigou a companhia a prosseguir a pé pela mata cerrada. A progressão era lenta e a companhia seguia em duas colunas separadas, através de uma longa picada que se estirava pelo meio do mato denso e húmido. Segundo os cálculos do tenente Rocha, eles estavam ainda a três quilómetros do objectivo. Ao aperceber-se que os seus homens já manifestavam alguma fadiga física, ele exigiu concentração total a todos. Rocha conhecia bem os seus pupilos e sabia que podia contar com todos eles. Já estavam perto, não seriam algumas centenas de metros que os haviam de quebrar. A Selva entoava uma estranha orquestra, onde os ruídos selvagens ecoavam por entre a vegetação forte e compacta. As aves noctívagas, que nunca se vêem, faziam-se ouvir através dos seus pios lamentosos, que contracenavam com as gargalhadas estridentes das hienas esfomeadas. Paulatinamente, aquela sinfonia selvagem foi-se quebrando, até ficar um estranho e soturno silêncio. Rocha já conhecia a selva e calculou que se aproximava algo perigoso – O quê, ela não sabia. Preparou-se para alertar os seus homens, mas não foi a tempo. Um leão monstruoso, irrompera do meio do capim, lançando-se sobre os homens, com as garras ao alto, atacando-os com uma ferocidade brutal. Rocha, com toda a sua frieza, só teve tempo de apontar à cabeça da fera e disparar na sua direcção, fazendo-o tombar inerte no chão. - Se o tenente tivesse hesitado, a besta teria arrancado a perna ao cabo Esteves. – Disse o sargento Raimundo. - Não lhe ia dar esse gostinho – Respondeu serenamente. Depois daquele incidente, a companhia retomou a sua marcha, e uma hora depois, alcançou o objectivo. A aldeia brotou no horizonte como que expelida do meio do mato cerrado e sombrio. Um fedor de carne carbonizada invadiu as narinas daquele grupo de homens extasiados pela dureza da marcha que tinham feito para chegarem até ali. Sentia-se no ar um estranho azedume de destruição e morte. O tenente Rocha reuniu a companhia e destacou uma equipa cinco homens para efectuar um breve reconhecimento. A restante companhia aguardou no local até receber ordens para avançar. O Tenente Rocha avançou na frente da equipa. Ele cada vez mais estava convencido que algo de mau o esperava, mais adiante. Caminharam alguns metros, e mais à frente, o que eles viram, era a marca indesmentível de que o Demónio tinha estado ali, isso era certo. As casas estavam queimadas e destruídas. Corpos humanos jaziam no meio das ruas, alguns completamente desmembrados, num cenário morbidamente lúgubre. Ao longe, deslocavam-se umas estranhas silhuetas que se moviam sobre quatro patas. Arrastavam um cadáver já sem pernas, para longe. O tenente Rocha observou-as atentamente através dos binóculos, e concluiu que se tratavam de lobos, e não de cães, como antes lhe parecera. “Lobos, aqui em Angola?”, questionou-se. Ele sabia da existência destes animais no Nordeste, mas não naquela região. Algo estava errado. Não conseguia entender o que poderia ter acontecido ali. Jamais tinha assistido a algo tão macabro. “Quem poderia ter perpetrado aquelas atrocidades todas?”, indagou ele, tentando encontrar uma resposta lógica, que justificasse a destruição total de uma aldeia e o aniquilamento de todos os seus habitantes. Por fim, deu ordens à restante companhia para avançar e patrulhar todo o perímetro. Rocha começou por vasculhar todas as casas e recintos, em busca do tal laboratório secreto que fazia parte da sua missão individual. Introduziu-se numa residência abandonada que tresandava a corpos putrefactos. Havia sangue nas paredes e vísceras espalhadas pelo chão. O tenente Avançou mais para diante, até que subitamente sentiu o chão a perder firmeza sob as suas botas. Baixou-se e Investigou o solo com as mãos. Sob o soalho de madeira achou um alçapão que escondia uma entrada subterrânea. Descerrou-o e encontrou uma passagem para uma cave. Acendeu a lanterna e desceu as escadas que comunicavam para esse piso subterrâneo. Tratava-se de um «bunker» com um corredor bastante comprido. Progrediu por ali fora até que descobriu um gerador eléctrico que ainda tinha algum gasóleo no tanque. Não demorou mais de um minuto para o pôr a funcionar. Depois procurou o quadro eléctrico na parede e, um-a-um ligou todos os disjuntores, até deixar o «bunker» completamente iluminado. A claridade permitiu que se observassem umas pequenas divisões gradeadas que encerravam alguns animais. Eram lobos, e estavam todos mortos! Mais à frente apresentava-se uma pequena divisão com cerca de 12 metros quadrados, cujas divisórias eram emparedadas com vidro bastante grosso. A porta estava destrancada, e o tenente Rocha empurrou-a devagar. Não havia descrição para o horror que se expôs à sua frente. Era o laboratório onde se efectuavam as tais experiências macabras. Havia sangue espalhado por cima das bancadas. Dentro de um reservatório prostrava-se um lobo cadáver. O seu corpo estava completamente ressequido, e mesmo ao lado, apresentava-se uma prateleira com dezenas de tubos de ensaio que armazenavam pequenas amostras de sangue! Lutou com o seu cérebro para que este se abstraísse daquele cenário tenebroso. Procurou informações concisas que indicassem que tipos de experiências se realizavam ali. Seguidamente revistou um armário metálico que guardava diversos dossiers. Abriu uma das pastas e leu o seu conteúdo. Eram apontamentos que descreviam o teor das ditas experiências, bem como o resultado das mesmas. A explicação para tudo o que ele vira lá fora, expunha-se ali mesmo à sua frente. Aqueles selvagens andavam a injectar compostos químicos que misturavam sangue lupino com alguns anabolizantes, para aumentarem os níveis de agressividade nos seres humanos. Tudo isto para tornar os soldados mais agressivos, e atacarem os inimigos cheios de raiva, sem qualquer medo. Mas o que resultou dali foi um canibalismo total, em que acabaram por se agredirem uns aos outros, destruindo tudo em seu redor. O corpo do fuzileiro enregelou-se quando se percebeu de toda a monstruosidade que o rodeava. Nem mesmo os coronéis em Lisboa, deviam imaginar o que se passava ali, quando decidiram envia-lo para aquela missão. Inesperadamente, as suas especulações foram interrompidas por uma comunicação rádio. Era o Sargento Raimundo que solicitava a sua presença urgente. O pelotão «Alfa» tinha encontrado algo. Quando chegou local, deu com mais um cenário macabro, diante dos seus olhos incrédulos. Corpos humanos jaziam uns sobre os outros, desfeitos em pedaços, completamente dilacerados pelos dentes e garras dos lobos esfomeados. No seio daquela tragédia, conservava-se ainda com vida uma criança visivelmente efémera. O inocente chorava, gesticulando os seus braços ossudos, evidenciando um claro desespero, o que fez com que o tenente Rocha se aproximasse dele para o acalmar; afinal tinha perdido os seus pais, que jaziam ali mesmo à sua frente. Ao tentar agarrar-lhe os braços, foi inesperadamente mordido na mão direita. De seguida a criança, que já se tinha transfigurado atirou-se a ele e ferrou-o, agora no braço esquerdo. Parecia um cão atiçado, tal não fora o vigor selvagem das suas dentadas. Pela primeira vez, em toda a sua carreira militar, os seus instintos estavam a atraiçoa-lo. O treino rigoroso de fuzileiro sempre o obrigara a enfrentar todo e qualquer desafio, mas agora sentia algo estranho... medo!? «Aquilo» não era uma criança normal, ela tinha-se transformado em algo terrivelmente indescritível. O tenente sacou da sua pistola «Walter» para o matar, mas inesperadamente, a criança voltou a abater-se sobre a sua própria fragilidade, e os seus olhos observaram o tenente com um ar penoso. Rocha ficou a ver a vida do inocente a esvair-se dos seus olhos pequenitos, mas terrivelmente medonhos. A “revolução dos cravos” irrompera pela vida dos portugueses como um relâmpago através do céu nocturno. As pessoas tinham saído à rua para comemorar a vitória da liberdade e da democracia sobre a opressão e a ditadura. José Rocha tinha sido desmobilizado da guerra e voltara para Portugal, tal como milhares de outros soldados que agora regressavam à vida que tinham deixado para trás, antes de serem obrigados a combater na maldita guerra. Agora só pensava em abraçar Leonor, a namorada que deixara desfeita em lágrimas quando partiu no navio “Vera Cruz”, naquela manhã fria de Janeiro de 68. Pretendia também voltar para o emprego que tinha na Siderurgia Nacional, onde tinha trabalhado como serralheiro. Ele era ainda um jovem. Agora estava de volta à vida urbana. Sentia-se vivo e cheio de vontade de devorar a vida. Mas nem tudo estava como ele sonhava. Oh não, de maneira nenhuma. O pior dos pesadelos ainda estava para acontecer. Logo na manhã seguinte ao seu regresso, o jovem Rocha vestiu a sua melhor farpela e saiu de casa em direcção à residência da sua querida e saudosa Leonor. Pelo caminho, parou numa florista e comprou um arranjo de rosas vermelhas, as favoritas dela. O prédio onde ela morava ficava a dois quarteirões abaixo do seu, por isso, foi num instante que ele chegou à sua porta, onde bateu com suavidade. O seu corpo vibrava com tantas saudades. Do outro lado da porta surgiu um indivíduo fininho com ar patético e convencido. - O que deseja? – Perguntou ele, asperamente. - Quero falar com a Leonor. Não se importa de a chamar? - Ela não está...mas já agora, quem és tu? – Inquiriu o outro, olhando-o com um ar desdenhoso. - Eu sou...espera lá!... – Impacientou-se – E quem és TU? – Perscrutou Rocha, robustecendo o seu tom de voz. - Eu sou o marido de Leonor! A frase atingiu-o como uma bala que lhe penetrara pela cara dentro. A sua garganta gelara-se e ele não conseguiu dizer mais nada. O ex-militar decidiu voltar costas. “Como pôde ela ter-me feito uma coisa destas? Eu amava-a, e prometi-lhe voltar vivo e inteiro. Daríamos o nó assim que eu voltasse... ” Estas questões abateram-se fervorosamente sobre a sua cabeça. No dia seguinte, Rocha apanhou o autocarro para “Paio Pires”, e dirigiu-se à siderurgia Nacional, empresa onde tinha trabalhado alguns anos, antes de ser chamado para a tropa, e depois para a guerra. Agora, pretendia recuperar o seu posto de trabalho. Chegou à portaria e pediu para falar com o encarregado da serralharia civil, o senhor Figueiredo. Um pouco depois, apareceu-lhe pela frente um tipo gordo e de cabelo desgrenhado. - Chamo-me Baltazar. Estou a substituir o «velho» Figueiredo, que Deus tem... – grunhiu ele. -Que aconteceu ao senhor Figueiredo? – Apressou-se a perguntar. - Bateu a bota. – Respondeu ele com ar de desprezo. – Mas o que queres tu?...Emprego? - O quê?... Mas como... – Rocha balbuciou, um pouco chocado com a notícia. - Mas o que fazes tu? – Interpelou. - Eu sou serralheiro, e... – redarguiu ele, nervosamente. - Não há emprego rapaz! – Interrompeu o gordo com um escárnio repugnante - Tenho apenas uma vaga para as limpezas. Estás interessado?... José Rocha acabou por voltar costas e vir embora. Ele não queria imaginar sequer que a sua vida se pudesse transformar naquele inferno, apenas de um dia para o outro. Pela primeira vez, desde há muito tempo, sentiu-se triste e só. Começou a imaginar que podia ter morrido com uma bala na cabeça durante a guerra de Africa, e essa ideia perfurou-lhe o espírito, como um consolo mórbido e cruel. Regressou a casa nessa tarde, cansado e bêbado, pois tinha-se encharcado em cerveja pelo caminho, até ficar completamente “liso”. Por fim, caiu na cama e adormeceu logo, para não ter que pensar em mais nada. A lua cheia perturbou a noite com a sua magnitude perversa e esse mistério nocturno interrompeu-lhe o sono pesado, levando-o a erguer-se da cama num grande impulso irracional. Procurou uma explicação para aquela desordem súbita, mas a irracionalidade tomara-lhe conta do espírito. Em compensação, o seu corpo irradiava uma força brutal e uma energia desconcertante. Sentia-se mais vigoroso do que nunca. Tinha fome. Oh, mas não era uma fome qualquer – Sentia um apetite voraz, por sangue e carne crua. - O que está a acontecer comigo?...Os meus braços estão mais volumosos e...peludos. E os meus dentes!? Oh, céus! Os incisivos avançaram até ao lábio inferior! - Gritou ele. Contemplou a lua e soltou um uivo estridente, que rompeu com o silêncio nocturno. Um pesadelo! Tudo não passara de um pesadelo horrível. José Rocha levantou-se e suspirou entre suores frios. Mas nem tudo fora um sonho. Ergueu-se da cama e colocou-se diante do espelho. E foi com terror que se apercebeu que tinha os olhos desmesuradamente rasgados e negros. Reparou também que as suas mãos se tinham transformado em garras gigantescas, e que as suas unhas agora estavam mais compridas, tendo adquirido um tom negro, desde a raiz até ao rebordo. Interiormente, havia algo que o incomodava e persistia – A Fome. Não era uma fome vulgar, daquelas que se sacia num frigorífico atestado de comida. Não! Crescia nele um desejo incontrolável por carne crua e sangue, associada a uma impiedosa vontade de matar que o arrastava para uma loucura alucinante. Galgou pela janela fora como uma flecha incandescente em busca de uma vítima. Mas ele não pretendia atacar um inocente qualquer, não! Agora, aqueles que o tinham traído e desconsiderado, seriam os primeiros a ser “julgados” e a sofrer o castigo que lhes era merecido. Corria-lhe nas veias, uma excitação mórbida, associada a um ímpeto de retaliação, que ele já não conseguia, nem queria dominar. Demorou poucos minutos até chegar à moradia de Leonor, e quando lá chegou não perdeu tempo a bater à porta. Desta vez irrompeu pela janela das traseiras e enfiou-se pelo quarto dela a dentro. O barulho desconcertante do abalroar da janela, obrigou o casal a acordar num pânico delirante. Fitos o finório que lhe roubara a sua querida Leonor. Tinha-a conquistado de forma cobarde, aproveitando-se da sua fragilidade e carência afectiva, enquanto ele combatia pela pátria, no meio da selva. O finório apossou-se de uma carabina e tentou disparar contra o intruso, mas Rocha transformara-se num animal selvagem, cujos instintos e destreza, não permitiram ao seu opositor ter tempo sequer para pensar. Pulou para cima dele e atingiu-o com o vigor brutal das suas garras, abrindo-lhe um rasgão profundo, que lhe cortaram o peito em duas metades. De seguida, ferrou-o com uma dentada selvagem, que lhe mutilou o braço direito. O finório berrou de terror enquanto o sangue se esguichava em torrentes do membro amputado. Agora, aquele já não era o mesmo ser desdenhoso que humilhara o ex-fuzileiro no dia anterior em que o despachara, como se ele fosse alguma “testemunha de Jeová” – Não! Agora, o finório era uma pobre vítima nas garras daquele lobo colossal e sanguinolento, Por fim, acabou-lhe com a vida, quando lhe ferrou os dentes arreganhados e maciços no pescoço, mais precisamente na zona da veia jugular, e lhe sorveu o sangue até à última gota. O rosto belo e gentil de Leonor transfigurara-se num cariz de horror e pânico, perante aquela carnificina canibalesca. Rocha já tinha abandonado o cadáver do sonso. Agora encarava Leonor de frente. - Rocha... Eu amo-te! – Suspirou ela, num tom de súplica. -Porque me esqueceste? – Roncou. - Pensei que não voltavas mais... - Lembro-me de te ter prometido que voltaria... - Desculpa!... – A voz dela embargara-se nas lágrimas que lhe escorriam pela face. Considerou deixá-la viva. Depois ponderou pedi-la em casamento, conforme lhe tinha prometido em tempos. Mas mesmo antes de terminar as suas reflexões, já as suas garras lhe tinham desmanchado a cara, outrora...encantadora. Leonor ainda tentou implorar pela sua vida, mas a traidora não merecia misericórdia, por isso, esquartejou-a como se fosse uma porca, num banquete alentejano. Fê-la sofrer, em cada um dos golpes que lhe desferiu, até escutar o seu último suspiro. O suspiro da morte. Agora, Leonor já não pertencia ao mundo dos vivos. Parecia que descansava profundamente, o que lhe trouxe à memória os tempos em que ela dormia em paz ao seu lado. Por fim, lançou o seu olhar perverso para os cadáveres rasgados e uivou pela noite como que a chamar por outros semelhantes a ele. Escapou-se dali, sorrateiramente de forma a evitar qualquer estardalhaço para que ninguém desse por ele. Saltou sobre a cobertura e prosseguiu, caminhando sobre joelhos e mãos. Pulou de telhado em telhado, até se deparar com o rio, mesmo à sua frente. Percorreu o pontão até ao fim, e dali apossou-se de uma pequena embarcação que se encontrava atracada sobre a amurada. Depois remou sofregamente, até à outra margem do rio. Chegado a terra, deixou que o seu faro aguçado o levasse até aquele homem nojento que se rira na sua cara, naquela tarde. Não foi difícil dar com ele, pois havia uma “casa de putas” ali na zona, que era bastante frequentada, principalmente por alguns encarregados da Siderurgia, e foi para lá que o seu faro o guiou. Escondeu-se dentro de um carro abandonado, e foi ali que esperou pelo gordo, que acabou por sair pouco depois. Rocha observou-o com atenção, depois abandonou o carro e seguiu-o com cautela. O gordo cambaleava, pois estava bêbado nem um cacho. Vivia num bairro social que ficava mais a sul, e para encurtar caminho, costumava enfiar-se pelo matagal dentro. Todas as noites o percurso era o mesmo. Nunca tinha tido quaisquer problemas. Caminhava descontraidamente com as duas mãos nos bolsos e assobiava um fado da Amália. Rocha aproximou-se. O gordo apercebeu-se de um ruído estranho por trás dele e isso fê-lo calar-se. Rocha saltou para a frente, na sua figura assombrosa e prendeu-o entre as suas garras robustas. - Lembras-te de mim, idiota? – Perguntou. - Não. Quem és tu, mascarado de idiota, pensas que me assustas? - Tivemos uma pequena conversa, esta tarde.... - Ah, já me lembro de ti. És o gajo que quer trabalho. Já te disse que tenho uma vaga para as limpezas... – Ironizou. O gordo nem teve tempo de terminar a frase. Rocha desferira-lhe um soco de tal modo potente, que lhe desfez o maxilar. O gordo desatou aos berros agarrado ao resto da cara, que ainda lhe restava. De seguida, Rocha deu-lhe um golpe no estômago, que o fez jorrar as vísceras todas para fora. Por fim, chacinou-o selvaticamente em todas as partes do corpo, até ele ficar transformado num monte de carne conspurcada. Rocha olhou para o céu estrelado e viu que a lua se tinha degradado no firmamento. Aquela sede sangrenta, bem como aquela estranha demência, tinha-se esgotado no seu corpo e na sua mente. Voltou a sentir uma calma interior, que o levou novamente a sentir-se só. Tinha de regressar a casa. Queria que aquele delírio cruel o libertasse, para voltar a ser o homem “normal” que sempre fora. Caiu na cama antes do relógio da igreja irromper pela madrugada, anunciando as sete da manhã. Dormiu longa e tranquilamente até ao fim da tarde desse mesmo dia. Depois, quando despertou, recordou-se logo de tudo o que tinha acontecido na noite anterior. Por fim, chorou. Não encontrava forma de viver com o seu arrependimento. Apercebeu-se de uma grande agitação na rua. Foi à janela e viu uma multidão a aglomerar-se para lhe cercar a casa. Havia uma batida geral para o matar. Homens e mulheres empunhavam lanças, alabardas, arcabuzes e bastões, numa fúria incontrolável para o apanhar. Oh, como ele desejava voltar a ter uma vida normal. Ele sabia que estava doente. A excitação pelo sangue e pela carne crua, assolava-lhe a alma e embrenhava-se nos seus ossos, deixando-o à beira da loucura. Não percebia o que lhe tinha acontecido, mas concerteza, fora infectado por alguma doença...Possivelmente, o miúdo que o mordera em Africa, teria sido a causa do seu flagelo. “Teria sido isso?”, pensou ele, recordando-se daquele episódio macabro que vivera durante a guerra. A imagem daqueles cadáveres completamente dilacerados regressou-lhe à memória. Corpos humanos que serviram de cobaias para aquelas experiências pavorosas, todos infectados por um vírus mortal. Por fim, os mentores daquela invenção macabra, terá tomado a decisão de dizimar a aldeia, pois sabiam, melhor que ninguém, que não havia cura para a praga que se desenvolvera a partir daquilo, que acabou por gerar um genocídio completo. Agora era ele quem estava a padecer, e em consequência disso, estava a causar sofrimento aos outros também. Era como se estivesse num centro de um remoinho, numa espiral que o sugava para o vórtice da loucura e demência total. Então, só lhe restavam duas saídas: Ou continuava a matar até ser preso, ou então... apontava uma pistola à cabeça e carregava no gatilho... |
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